TRECHO / O NEGRO NA FORMAÇÃO DA SOCIEDADE
PARAENSE
DE VICENTE SALLES
A Cabanagem, os
Escravos, os Engenhos
A Cabanagem,
revolução popular que abalou, durante alguns anos, a vida social e econômica da
Amazônia, foi um dos movimentos mais profundos, mais sérios e mais característicos
da fase da Regência. Um de seus aspectos mais importantes é precisamente a
análise da intervenção das classes populares dos campos e das cidades nos
destinos políticos da província do Grão Pará com o fim especial de modificar o
status quo.
Podemos reconstruir,
a partir de certos elementos históricos e sociais, todo o esquema estrutural
para onde afluem e se aglutinam fatores determinantes. Tais fatores precederam
e deram embasamento ideológico – admitamos em termos puramente históricos e
sociológicos uma ideologia para o movimento – aquela manifestação de rebeldia
que não foi, de forma alguma, destituída valores históricos relevantes ou uma
simples manifestação de banditismo sertanejo. Ao contrário. Historicamente, a
Cabanagem é a ultima etapa de um processo revolucionário que se iniciou ante da
Independência ( a adesão do Pará á Independência ocorreu a 15 de Agosto de 1823
) e explodiu doze anos depois, em 1835;
A grande fonte
para o estudo e a compreensão desse movimento é, ainda hoje, a obra de Domingos
Antonio Raiol, Barão de Guajará- Motins Políticos, 5 volumes publicados
sucessivamente no Rio, Maranhão e Pará ( 1865-1890 ).
A Cabanagem se
forjou na cidade. Explodiu nos campos. Foi o epílogo de inúmeras manifestações
urbanas, com reflexos inevitáveis nos meios rurais. Como forma de luta armada,
a liderança absoluta esteve sempre os sertanejos. O principal agente revolucionário
foi, incontestavelmente, um líder urbano, o padre Batista Campos, que todavia
gozava de imenso prestígio político no interior. {...} A introdução de escravos
negros na Amazônia se intensificou a partir da criação, em 1775, da Companhia
Geral do Comércio do Grão Pará e Maranhão, durante o consulado pombalino.
Pretendeu-se com
isso estimular a produção agrícola e dar início á substituição do braço do
indígena, pelo negro, nos trabalhos da lavoura. “ O escravo negro quer dizer sobretudo
açúcar, algodão, ouro, gênero que se exportam”.
No Pará e no
maranhão os negros foram destinados sobretudo para os canaviais e as lavouras
de arroz e algodão. O cultivo da cana-de-açucar foi uma das primeiras
atividades econômicas dos europeus na Amazônia há indícios que os Holandeses,
antes dos portugueses, tenham cultivado cana e instalado pequenos engenhos nas
proximidades da foz do Amazonas. Francisco Caldeira Castelo Branco fundador da
cidade de Belém, em 1616, foi plantador de cana e o primeiro latifundiário do
Pará. A conquista européia iniciou-se, por conseguinte, sob interesse imediato
dessa cultura.
Embora incipiente,
a lavoura de cana-de-açucar prosperou nas cercanias de Belém e espalhou-se, com
maior intensidade, pelas margens dos rios Guamá, Capim, Moju e Igarapé Miri.
{...} após a morte
prematura do Padre Batista Campos, os ânimos se exaltam e no dia 7 de janeiro
de 1835 a Cabanagem está vitoriosa e se instala o primeiro governo
revolucionário ( Félix Clemente Malcher ).
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