quarta-feira, 28 de setembro de 2016

PARTICIPAÇÃO DO "NEGRO NA SOCIEDADE PARAENSE"




TRECHO / O NEGRO NA FORMAÇÃO DA SOCIEDADE PARAENSE
DE VICENTE SALLES
A Cabanagem, os Escravos, os Engenhos
A Cabanagem, revolução popular que abalou, durante alguns anos, a vida social e econômica da Amazônia, foi um dos movimentos mais profundos, mais sérios e mais característicos da fase da Regência. Um de seus aspectos mais importantes é precisamente a análise da intervenção das classes populares dos campos e das cidades nos destinos políticos da província do Grão Pará com o fim especial de modificar o status quo. 
 
Podemos reconstruir, a partir de certos elementos históricos e sociais, todo o esquema estrutural para onde afluem e se aglutinam fatores determinantes. Tais fatores precederam e deram embasamento ideológico – admitamos em termos puramente históricos e sociológicos uma ideologia para o movimento – aquela manifestação de rebeldia que não foi, de forma alguma, destituída valores históricos relevantes ou uma simples manifestação de banditismo sertanejo. Ao contrário. Historicamente, a Cabanagem é a ultima etapa de um processo revolucionário que se iniciou ante da Independência ( a adesão do Pará á Independência ocorreu a 15 de Agosto de 1823 ) e explodiu doze anos depois, em 1835;
A grande fonte para o estudo e a compreensão desse movimento é, ainda hoje, a obra de Domingos Antonio Raiol, Barão de Guajará- Motins Políticos, 5 volumes publicados sucessivamente no Rio, Maranhão e Pará ( 1865-1890 ).
A Cabanagem se forjou na cidade. Explodiu nos campos. Foi o epílogo de inúmeras manifestações urbanas, com reflexos inevitáveis nos meios rurais. Como forma de luta armada, a liderança absoluta esteve sempre os sertanejos. O principal agente revolucionário foi, incontestavelmente, um líder urbano, o padre Batista Campos, que todavia gozava de imenso prestígio político no interior. {...} A introdução de escravos negros na Amazônia se intensificou a partir da criação, em 1775, da Companhia Geral do Comércio do Grão Pará e Maranhão, durante o consulado pombalino.
Pretendeu-se com isso estimular a produção agrícola e dar início á substituição do braço do indígena, pelo negro, nos trabalhos da lavoura. “ O escravo negro quer dizer sobretudo açúcar, algodão, ouro, gênero que se exportam”.
No Pará e no maranhão os negros foram destinados sobretudo para os canaviais e as lavouras de arroz e algodão. O cultivo da cana-de-açucar foi uma das primeiras atividades econômicas dos europeus na Amazônia há indícios que os Holandeses, antes dos portugueses, tenham cultivado cana e instalado pequenos engenhos nas proximidades da foz do Amazonas. Francisco Caldeira Castelo Branco fundador da cidade de Belém, em 1616, foi plantador de cana e o primeiro latifundiário do Pará. A conquista européia iniciou-se, por conseguinte, sob interesse imediato dessa cultura.
Embora incipiente, a lavoura de cana-de-açucar prosperou nas cercanias de Belém e espalhou-se, com maior intensidade, pelas margens dos rios Guamá, Capim, Moju e Igarapé Miri.
{...} após a morte prematura do Padre Batista Campos, os ânimos se exaltam e no dia 7 de janeiro de 1835 a Cabanagem está vitoriosa e se instala o primeiro governo revolucionário ( Félix Clemente Malcher ).

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