sexta-feira, 20 de maio de 2016

TRADIÇÃO E ORALIDADE


TRADIÇÃO E ORALIDADE DAS  COMUNIDADES RURAIS DE VIZEU PARÁ
Prof. Gaspar/Historiador, Universidade Federal do Pará

Em virtude de ser professor e administrar aula nas comunidades rurais do Pará me chamou atenção de moradores das comunidades tradicionais do município de Vizeu Pará, a forma como se expressão a relatar histórias que pra eles são reais e falam com tanta firmeza e se espalham ao longo de suas origens, pois passam de pai para filho a forma como contam e como se  vivessem o real e não o imaginário como nos pensamos.


 A organização textual da literatura oral compartilhada por mim, foi o ponto de partida desta pesquisa. Narrando o acervo da tradição oral compartilhado, os moradores falavam da experiência de valorização e da importância de se conservar essa tradição oral. No percurso de organização do acervo oral busquei apreender a elaborar e transmitir a experiência individual e coletiva, diante da narração de histórias, contos e casos tradicionais pelos moradores da comunidade. As entrevistas foram realizadas em roda de  conversa, a experiência dos moradores tornam-se mais acessíveis. Foram entrevistados aqueles conhecidos como grandes conhecedores da literatura oral da comunidade, e utilizou-se o método fenomenológico para a análise dessas experiências. Os resultados apontam a preocupação dos moradores em guardar esta literatura oral de forma textualizada, uma vez que ela encontra-se espalhada na memória dos moradores das comunidade de Vizeu Pará. Ao resgatar este acervo oral e guardá-lo textualmente, eles pretendem, também, valorizar a memória dos antepassados, e guardá-la para as gerações futuras. Para contar a sua história de vida, cada morador se remete à memória coletiva compartilhada pela comunidade. Vê-se, portanto, uma interseção entre história pessoal e comunitária, apoiadas o fortemente no passado. Concluiu-se que este acervo oral acumulado em anos de história é constantemente reelaborado pelos moradores, permitindo a cada um deles construir a sua própria história, que é também coletiva, e que pretendem preservar para as novas gerações.
HISTÓTRIAS CONTADAS
No Pará, principalmente em cidades do interior, as lendas têm uma grande influência sobre o povo, que acredita na veracidade de suas histórias. Basta um instante conversando com algum morador mais antigo para ser envolvido em uma aura mística, os próprios alunos são envolvidos pelas histórias de sua região, pois seus pais avós que nasceram nos locais e os primeiros a povoar as comunidades contam com veemência, apesar da energia elétrica ter chegado na região ainda há aquela escuridão que envolve as ruas as sombras da noite é o modelo ideal para relatar contos que os conhecedores do conhecimento oral tem pra relatar suas histórias. E ao sentar em frente de suas casas que roda de conversas vai de noite a dentro iluminado pelo lua cheia que histórias como: de mula sem cabeça, vela que anda sozinha, o homem que vira porco, a matinta que ao voar de noite deu vou errado e amanheceu a mulher encima da folha do coqueiro, do menino pretinho que pula com uma só perna, a mapinguarí que tem um só olho no meio da testa, todos esses contos contados e cantados em prosa e verso e quando se tem um violão artesanal  se torna mais fantástico, animador e tenso, tenso pois se sente o personagem cantado e contado perto da roda de conversa, fantasia misturada a realidade, com aspectos místicos e um pé no sobrenatural, as lendas nascem, crescem e se reproduzem mas, de fato, nunca morrem. Sobrevivem na memória das pessoas e povoam nossa imaginação com fatos irreais, sem comprovações científicas ou verdades absolutas, como “quem conta um conto, aumenta um ponto”, são repassadas de gerações a gerações e se mantêm vivas no imaginário de um povo. Os contadores de histórias, são geralmente pessoas mais velhas, líder de comunidade ou chefes de famílias, geralmente ficam encarregados de alguma missão dentro do grupo, ressalta-se que os mais jovens ficam atentos ao saber transmitidos, geralmente não fazem perguntas só assimilam ensinamentos.
O conteúdo das lendas é fortemente simbólico e geralmente tem detalhes que podem ter realmente acontecido ou não, e que ao serem contados e recontados começam a ter um outro nível de realidade e imaginação.
 Na antiguidade, não conseguindo explicar os fenômenos da natureza de forma científica, os povos criavam mitos para dar um sentido maior aos acontecimentos inexplicáveis. Tal qual os mitos, extraídos de lendas gregas, acabam sendo explicados à luz da psicologia moderna. No Brasil, a miscigenação contribuiu fortemente para a origem de um grande número de lendas que, vindas de outros povos, acabaram fazendo parte da nossa própria história.
As lendas, em especial as amazônicas, são muito famosas e vagam pelos quatro cantos do país. As mais difundidas, de origens indígenas, costumam buscar explicações para os elementos da natureza. Em maior ou menor grau, estão presentes em nosso cotidiano e acabam influenciando a formação cultural de cada região ao se misturar a cultura africana trazida pelos negros ao longo dos séculos, onde muda todo um cenário cultural imposto pelo cultura européia.Com intuito de embranquecer os modos, os costumes e até a  religiosidade com histórias contadas e lendas de heróis porque não dizer gregas, que as tradições culturais e orais afro foram sufocadas até os dias de hoje, por esta razão que historiadores e pesquisadores ajudaram a se fazer implantar a Lei 10.639/03 que dá suporte de manter viva as tradições culturais africanas em nosso país contra toda uma imposição branca que vai de encontro ao racismo, preconceito e a intolerância religiosa. Essa lei 10.639/03 e suas diretrizes precisam ser compreendidas dentro do complexo campo das relações raciais brasileiras sobre o qual incidem. Isso significa ir além da adoção de programas e projetos específicos voltados para a diversidade étnico-racial realizados de forma aleatória e descontínua.
O QUE É TRADIÇÃO ORAL ? OU CONHECIMENTO ORAL
Não há como falar de ensinamentos orais sem relembrar a figura do Griô africano, Pacheco (2006, p. 45) lembra que: “Na tradição oral, a palavra griô tem um poder e um significado divino, tem um compromisso com a verdade e com os ancestrais”, Hampâté (apud PACHECO, 2006, p. 8) diz que: Uma vez que a sociedade africana está fundamentalmente baseada no dialogo entre os indivíduos e na comunicação entre comunidades ou grupos étnicos, os griots são os agentes ativos e naturais nessas conversações, Pacheco (2006, p. 16) ainda afirma: “O griô é um educador caminhante alegre e afetivo, sábio na criação de rituais de vinculo e aprendizagem, histórias e artes de viver”.
A palavra griô vem de griot, em francês. A palavra tem sua origem em bamanan, língua do noroeste da África, antigo império do Mali, e significa “o sangue que circula”. Assim como o significado da palavra, são reconhecidos como griôs aqueles que fazem com que as tradições circulem entre as novas gerações, preservando a identidade cultural de cada povo.
 Na falta de griôs pelo Brasil, cabe aos mestres das tradições e aos mais antigos o ensinamento das mesmas para os jovens, assim diz o provérbio iorubano: “Quando morre um velho é como se uma biblioteca inteira fosse incendiada (Hampâté Ba), os velhos são guardiões das tradições” (SOUZA; LIMA, 2006, p. 95). De acordo com Abib (2005, p. 95): O mestre é aquele que é reconhecido por sua comunidade, como o detentor de um saber que encarna as lutas e sofrimentos, alegrias e celebrações, derrotas e vitórias, orgulho e heroísmo das gerações passadas, e tem a missão quase religiosa, de disponibilizar esse saber àqueles que a eles recorrem.  
A “tradição oral” é transmitida oralmente de uma geração para outra. Suas características particulares são o verbalismo e sua maneira de transmissão, na qual difere das fontes escritas. Devido á sua complexidade, não é fácil encontrar uma definição para a tradição oral que dê conta de todos os seus aspectos, testemunhos orais podem ser transmitidas em discurso e podem tomar a forma, por exemplo, de contos, provérbios, baladas, canções. Desta forma, é possível que uma sociedade possa transmitir a história oral, e outros saberes entre as gerações, sem um sistema de escrita, para alguns estudiosos, o problema todo se resume em saber se é possível conceder á oralidade a mesma confiança que se concede a escrita quando se trata do testemunho de fatos passados. No meu entender, não é esta a maneira correta de se colocar o problema. O testemunho seja escrito ou oral, no fim não é mais que testemunho humano, e vale o que vale o homem. Não faz a oralidade nascer a escrita, tanto no decorrer dos séculos como no próprio individuo ? Os primeiros arquivos ou bibliotecas do mundo foram o cérebro dos homens. Antes de colocar seus pensamentos no papel, o escritor ou o estudioso mantém um diálogo secreto consigo mesmo. Antes de escrever um relato, o homem recorda os fatos tal como lhe foram narrados ou, no caso de experiência própria, tal como tal como ele mesmo narra. A tradição oral é a grande escala da vida, e dela recupera  e relaciona todos os aspectos. Pode parecer caótica aqueles que não lhe descortinam o segredo  e desconcertar  a mentalidade cartesiana acostumada a separar tudo em categorias bem definidas. Dentro da tradição oral, na verdade, o espiritual e o material não estão dissociados.
O QUE É UMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA?
 Segundo a teoria da descentração proposta por Hall (1999), o sujeito moderno desenvolve várias identidades, mas eu diria que a predominante devido o processo de globalização e interesse das elites capitalistas, seria a cultura dos povos dominantes imposta sem controle aos outros povos, com a qual os dominados em sua maioria se identificam, segundo Abib (2005, p. 35): As identidades dos sujeitos, imersos nesse processo de globalização, passam por profundas transformações, perdendo a estabilidade que outrora se entendia como sendo sua marca. As pessoas valorizam ao extremo essa cultura que é mais uma do povo brasileiro, mas não a única, já que segundo Darcy Ribeiro (1995) é um novo povo, surgido de um misto de portugueses, africanos e índios. Mas o que vimos na realidade é, haver somente uma única cultura branca passando por cima das demais.
Foi pensando nestas problemáticas que foram criadas as Leis 10.639/03 (cultura negra) e 11.645 (cultura negra e indígena) que torna obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Indígena, para garantir na educação a presença das outras culturas. Essa mesma tentativa de se impor uma única cultura criou as chamadas resistências, segundo Abib (2005, p. 10): Não há como desconsiderar na atualidade, o processo de fortalecimento de tradições e práticas culturais de determinados grupos sociais, que trás como conseqüência, um profundo sentido de pertencimento por parte do sujeito, com relação ao grupo social do qual é originário. São núcleos que se espalham cada vez mais pelo país com movimentos de valorização das outras raízes brasileiras que não somente a europeia, e é ai que entram os povos remanescentes da África, ou melhor dizendo afrodescendentes, que mantêm vivo os costumes, tradições e ensinamentos/conhecimentos africanos aqui no Brasil, através da oralidade uma pedagogia típica desse povo. A identificação com essa cultura, a vivência nela e a luta para mantê-la viva, séria em minha opinião a essência da identidade afro-brasileira. Tradição oral A tradição oral é a fonte primordial da história. A palavra oral, a fala, foi sempre muito mais importante para os africanos do que a escrita, que não passa de uma memória artificial, opinião também compartilha por Reyzábal quando afirma: A tradição oral nos encaminha para nossas raízes e permite sermos partícipes da existência em coletividade [...] A escrita fixa no papel, a oralidade fixa na memória [...] Nesse sentido, tradição e literatura orais não só representam o produto da imaginação e fantasia, mas também permitem a integração do individuo na cultura criada pela coletividade. (REYZÁBAL, 1999, p. 259-261) É através da memória, da fala, que a História da África tem sido contada e passada entre os africanos ao longo das gerações. A cultura africana é predominantemente oral, as histórias contadas e recontadas constituem a forma mais eficaz de perpetuar a tradição e os costumes. É justamente esse fortalecimento de identidade pela oralidade que proponho nesse artigo.
“As tradições orais são todos os testemunhos orais, narrados, relacionados ao passado”, já para Gonçalves e Silva (2003, p. 185): A tradição oral é uma manifestação da tradição cultural, e, como ela, encerra conjunto de significados, que se apresentam com continuidade e constância entre membros de um mesmo grupo étnico-racial. Encontram-se tais significados inscritos em intenções, projetos, posicionamentos, avaliações, articulados no agir e intervir no ambiente. Trata-se de patrimônio ancestral inatingível que sobrevive, com renovados contornos, como que ocultado, mas sempre compartilhado. Essa tradição não é um simples costume, é um conjunto de ensinamentos para vida que raramente são passados para esses descendentes de africanos, pobres em sua grande maioria. Esses conhecimentos quase nunca atravessam as portas das escolas, onde se ensina a cultura dos povos dominantes, e a sua própria cultura é vista com descaso e preconceito.
 Por isso as Leis 10.639 e 11.645 devem ser postas em prática e não ficarem somente no papel como várias outras, para que sejam adotados no ensino das escolas elementos identificadores das culturas negra e indígena, contrariando a visão dominadora e vitoriosa branca, para que os descendentes dessas culturas venham a ter seus próprios heróis. A cultura africana propriamente dita, travou uma verdadeira luta por esse povo, que só queria ser, estar, permanecer e existir com sua identidade. Eles foram vítimas de perseguição por outras culturas, que desconheciam e ainda desconhecem esses patrimônios brasileiros de saber. Esses saberes que segundo Abib (2005,  p. 98-99): São saberes e conhecimentos que não podem ser disponibilizados a qualquer pessoa ou em qualquer momento, mas necessitam, para ser transmitidos, de uma certa preparação por parte da pessoa interessada, que inclui muitas vezes uma “iniciação” que faz parte da ritualidade característica daquele grupo [...] Essas estratégias são fundamentais para a continuidade dessas tradições, que não teriam chance de se preservar ao longo do tempo, se fossem demasiadamente “abertas” às influencias externas.
Fazem parte dos saberes africanos: os contos, fábulas e lendas, instrumentos da tradição oral africana que incluem elementos da natureza, espíritos e símbolos sobrenaturais e experiências vividas pelos antepassados e contemporâneos, refletindo os aspectos relevantes da vida em comunidade. A necessidade de narrá-los impõe-se, e a literatura tradicional é fértil em possibilidades novas e criativas: histórias, contos, provérbios, adivinhas, poemas. É a chamada tradição oral, existente em vários outros movimentos e permanentemente atualizada em função da realidade quotidiana. Dentro dessa fonte de saber não posso deixar de dar uma atenção maior aos mitos, que são a base da pesquisa da mitologia africana.
Anterior à escrita, os mitos já existiam em sua expressão oral transmitidos por grandes mestres de diferentes regiões do continente africano, referenciando a tradição africana. E para esta representação, o mito indica a síntese da origem do universo em diversas etnias por todo o mundo. Por este motivo também, os mitos orais têm a palavra como força suprema. Se não há confiança na palavra falada, como se pode ter confiança na palavra escrita? De forma geral, na África tradicional, a palavra é sinal de divindade, até ter contato com a materialidade, com a expressão escrita. Mas isso não a fez perder a sacralidade. E é por isso, que existem nesta tradição pessoas específicas para trabalharem com o discurso, tidas como sagradas. No exercício de educar para a vida, o pensamento africano mantém como tradição as histórias míticas, que podem ser consideradas como práticas educacionais que chamam a atenção para princípios e valores que vão inserir a criança ou o jovem na história da comunidade e na grande história da vida. No pensamento africano, a fala ganha força, forma e sentido, força e orientação para a vida. A palavra é vida, é ação, é jeito de aprender e de ensinar. Assim nasceram os mitos. Contar um mito, em muitos lugares, faz parte do jeito de educar a criança que, mesmo antes de ir para a escola, aprende as histórias da sua comunidade, os acontecimentos passados, valorizando-os como novidade. (MACHADO, 2003) consegue-se transformar essa realidade mostrando: a importância do convívio das crianças com um ambiente de sua cultura para formação da identidade e personalidade; o ensino dos mais velhos e o respeito a eles e às suas sabedorias; como usar os mitos para passagem de conhecimento e para formar pessoas melhores; a importância do subjetivo de mãos dadas ao conhecimento científico, dando ênfase à motivação, à imaginação, costumes e valores da cultura afro-brasileira; preocupando-se realmente com o desenvolvimento das crianças, e não apenas em formar mão-de-obra; utilizando o conhecimento para favorecer a prática do cotidiano; criando contato e respeito com a natureza e o meio ambiente. Para relacionar a importância do mito para o nosso ser: Campbell (1990) revela a capacidade que os mitos têm de dialogar com a sabedoria de vida, um diálogo que transcende a literatura e as artes. Segundo ele o mito cria uma “ressonância do interior do nosso ser e da nossa realidade mais íntimos, de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivo”. Enquanto Souza e Lima (2006, p. 84) destacam a importância desses mitos para vida: Assim, as histórias míticas podem trazer muitos exemplos para vida cotidiana, incluindo lições sobre o mistério da natureza humana. São histórias que, aprendidas, serviam e ainda servem para dar continuidade à tradição, à cultura e aos sonhos de um determinado grupo de indivíduos ou de uma sociedade. A oralidade como preparação para vida, e dentro dela os mitos são conceitos que podem ser referenciados e trabalhados em sala de aula e em todos os outros espaços, a fim de compreender uma das tradições africanas mais relevantes e influenciadoras no processo de formação da identidade brasileira. Exaltando um ser negro, que passará a se ver com orgulho, e não mais se espelhar sempre nas elites dominantes. A narrativa retrata a vida social de um povo, uma nação, ou até de um indivíduo e sua história se transforma em instrumento mediador para a formação de novas identidades e possivelmente, novas narrativas. Observamos o que nos diz também os movimentos da capoeira e do candomblé como formas positivas de transmissão desses saberes. Venho tentado mostrar a importância dessa oralidade para os sujeitos afro-descendentes e para todas as outras etnias como uma lição de vida, e como uma construção de identidades realmente ligadas às raízes e à cultura de um povo e ainda fazemos isso às vezes e é muito gostoso.
Com certo cuidado, entramos em contato com alguns terreiros, fomos visitar com intuito de resgatar histórias relacionadas à mitologia africana. Precisaremos explorar esse campo com muito cuidado para não agredir a religião, e ao mesmo tempo conseguir algum material, já que eles são muito reservados quando se tratam dos saberes tradicionais passados pelos ancestrais. O terreiro é um ambiente novo para mim, antes eu tinha medo e até preconceitos em relação ao Candomblé, pois sou adepto do cristianismo mas depois que adentrei aquele local e estudei mais sobre o assunto comecei a atender melhor a religião. Espero que esses conhecimentos adquiridos se perpetuem através dessa oralidade e resistência, para que as pessoas possam se identificar com suas matrizes africanas e se sentirem pertencentes a elas, assim como venho me identificando, quebrando preconceitos e me tornando uma pessoa entendida no assunto.
SURGIMENTO DO NEGRO NA AMAZÔNIA
 As primeiras referências sobre a introdução de escravos de origem africana na Amazônia datam de 1662 e  1680, e foi no final desse mesmo século XVII, que a coroa portuguesa decidiu introduzir escravos negros através da companhia de comércio do maranhão. e mesmo que historiadores, como Arthur Cézar Ferreira Reis, registrem entrada de escravos ainda entre o fim do século XVI e inicio do século XIX, feito por ingleses, foram mesmo os portugueses que os introduziram em grande número.
No período final do século XVII, parece que a presença negra em engenhos e outras propriedades rurais e ribeirinhas ainda era escassa, mas em Belém, ela já era marcante, tanto é que data de 1628 a fundação, na cidade, da irmandade de nossa senhora do rosário dos homens pretos, e de 1693 a igreja de nossa senhora do rosário, que eram tradicionais redutos de devoção dos negros, talvez o fato de a companhia de comercio favorecer mais o maranhão com o abastecimento de escravos, é que explique por que apenas nos arredores de Belém, por essa época, se desenvolveu uma agricultura de produtos de exportação, como cana-de-açucar, arroz, tabaco, algodão e cacau,mas foi com a criação da companhia de comercio do Pará e do maranhão, em 1755, que houve um grande aumento do fluxo de escravos para a Amazônia. Por 22 anos, foram cerca de 12,587 escravos provenientes da África, sendo que parte deles acabou indo para o Mato Grosso, esses escravos deveriam iniciar a substituição da mão-de-obra indígena pela negra, e ao mesmo tempo contribuir para o desenvolvimento da produção agrícola como certamente ocorreu com intensidade nas regiões ás margens dos rios Guamá, Capim, Acará e Igarapé Mirim e outros.
CONCLUSÃO
Afirmei nesse artigo a necessidade de uma pedagogia voltada para o fortalecimento de identidades de uma população que tem sido forçosamente dominada culturalmente, que a meu entender parte de uma tradição oral fortemente preservada, e que tem sido por interesse de classes dominantes esquecida. Os estudos na literatura, exemplos nas matrizes africanas e as atividades da pesquisa, mostraram ser de imprescindível importância desenvolver essas convivências dentro de uma oralidade africana de resistência. A própria dinâmica da transmissão oral exige a interação e a convivência sociável entre as pessoas, agindo diretamente para que elas não sejam mais do que meros instrumentos capitalistas, e possam libertar sua alma numa perspectiva de se sentir humano, vivo, respeitado, pertencente a uma lógica maior do que está sendo imposta a todos nós. Abordei, ainda, como a convivência na comunidade e entre as pessoas, é importante para a educação acadêmica e para vida, usando a mim mesmo como exemplo de transformação. Reconheço que ainda é preciso aprofundar mais no campo das identidades e dos interesses políticos em questão. Precisamos encarar nossa jornada com muito mais afinco no âmbito  da mitologia africana, levando ao máximo de pessoas possíveis a importância de valorizar o que é patrimônio delas e nosso também, a nossa cultura e identidade. Por isso, é fundamental fomentar nos jovens e educadores, o desejo de preservar as histórias particulares da comunidade narrativa a que pertencem. Eles devem ser estimulados para que tragam as histórias que conhecem, para que tenham orgulho delas e passem a contá-las em todos os espaços possíveis.
Sem dúvida o nosso maior investimento para a continuidade desse elo. E como educador temos que nos aprimorar cada vez mais, para dar conta dessa gigantesca responsabilidade, de fazê-los enxergar o mundo por seus próprios olhos e pelos olhos de seus ancestrais.

Prof. Gaspar/Historiador



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